RESUMO

As mastites constituem o maior problema de saüde animal do rebanho leiteiro, causando reduqäo na produqäo e alteraqöes na composiqäo e qualidade do leite. A forma subclfnica é a que ocorre com maior freqüéncia e, por näo determinar modificaqöes visfveis no leite e/ou na glåndula mamåria, permite a persisténcia dos agentes por periodo prolongado, conduzindo, desta forma, a elevados prejufzos econömicos. Bactérias, fungos e virus podem ser agentes causais, ocorrendo isoladamente ou em associaqöes. Amostras de leite de 3.111 tetos de 781 animais de granjas leiteiras Tipo B, submetidas prova "CMT", revelaram 746 tetos (23,3%) de 416 animais (53,3 %) positivos ao teste. Dos tetos positivos, 926 amostras de leite foram submetidas a exames bacteri016gico e mic016gico. Destes, 183 (19,8 revelaram-se negativos e 743 (80,2 positivos. Dos positivos, 552 (59,6%) apresentaram um unico agente e 191 (20,6%) dois ou mais. As ocorréncias foram Staphylococcus sp. (45,5 Streptococcus sp. (25,2 %); Corynebacterium sp. (13,0%); Enterobacteriaceae (7,2 Bacilos Gram-negativos näo fermentadores (6,3%); Micrococcus sp. (0,8%); Pasteurella sp. (0,2%) e Actinomyces pyogenes (0,1 %). Para leveduras e fungos micelianos, a ocorréncia foi de % e 0,5 % , respectivamente. Dentre as associaqöes, as mais comuns foram Staphylococcus sp. + Streptococcus sp. (18,3%) e Staphylococcus sp. + Corynebacterium sp. (13,6%).

PALAVRAS-CHAVE: Mastite subclfnica•; bovino; etiologia.

SUMMARY

Mastitis are the major problem of animal health in dairy herds, as production is reduced and milk quality and composition are altered. Its subclinical form occurs in higher frequency and as there is no udder and milk visible alterations, the agents can persist longer leading to considerable economic losses. Bacterias, fungi and virus can be the causal agents playing their role solely or in association. From 3,111 teats milk samples of 781 animals type B dairy ranchs submitted to CMT revealed respectively 746 (23.3 % ) and 416 (53.3 %) positive tests. From those positive teats 926 milk samples were bacteriologically and micologically examined, demonstrating 183 (19.8%) negative and 743 (80.2%) positive with 552 (59.6%) revealing just one agent and 191 (20.6%) two or more. The study showed 972 strains exibiting the average of 1.3 per sample. The major contributions were Staphylococcus sp. (45.5 Streptococcus sp. (25.2 Cotynebacterium sp. (13.0%); Enterobacteriaceae (7.2%); no fermenter Gram-negative rods (6.3%); Micrococcus sp. (0.8%); Pasteurella sp. (0.2 and Actinomyces pyogenes (0.1 Yeast and fungi occurred respectively in 0.7% and 0.5 %. The more common associations were Staphylococcus sp.+ Streptococcus sp.(18.3 %) and Staphylococcus sp.+ Cory'nebacterium sp. (13.6%).

KEY WORDS: Subclinical mastitis; bovine; aetiology.

INTRODUÇÃO

Sob o ponto de vista econömico, as mastites estäo entre as mais importantes afecqöes do rebanho leiteiro, uma vez que reduzem progressivamente a produqäo, alteram a composiqäo quimica do leite e comprometem a Vida reprodutiva da fémea, além das suas implicaqöes a nfvel de saüde püblica (7, 16).

Por näo apresentarem alteraqöes visfveis na glåndula mamåria e no leite, as mastites subclfnicas acarretam grandes prejufzos quando se considera a freqüéncia de ocorréncia e a persisténcia inaparente dos agentes das infecqöes (18). Säo multicausais, e no aspecto microbiano podem estar envolvidos ålngos, bactérias e virus, ocorrendo isoladamente ou em variadas associacöes (13, 22, 31, 34).

Sua detecção requer o uso de métodos auxiliares de diagnóstico (25), e entre estes estão aqueles baseados na alteração dos padrões celulares do leite como o "California Mastitis Test" (CMT) (35) e os exames bacteriológicos.

Estudos etiológicos com reavaliações periódicas são recomendados para a adoção de medidas profiláticas eficazes (11).

No presente trabalho foi realizado levantamento bacteriológico e micológico de mastites subclínicas, evidenciadas pelo "CMT". O objetivo foi determinar os diversos agentes causais bem como as associações mais prováveis e confrontar estes dados com os obtidos em outras regiões leiteiras e, assim, permitir um acompanhamento histórico da prevalência destes.

Os gêneros Staphylococcus e Streptococcus mostraram-se os predominantes, à semelhança de outras regiões do Estado e do País.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em 7 municípios da região de Ribeirão Preto, envolvendo 7 propriedades produtoras de leite tipo B, 781 animais com 3.111 tetos examinados pelo "CMT", dos quais 746 apresentaram-se positivos.

Dos 746 tetos, colheu-se assepticamente, para exame bacteriológico, 25ml de leite em frascos previamente esterilizados. Foram efetuadas um total de 926 culturas, pois de alguns tetos houve 2 coletas.

Nas semeaduras iniciais foram empregados os meios de ágar sangue, ágar MacConkey e caldo simples para o isolamento de bactérias e ágar Sabouraud-glicose para a verificação da presença de fungos elou leveduras.

A identificação dos agentes bacterianos e micóticos isolados naqueles meios foi realizada conforme as provas bioquímicas recomendadas (5, 6, 15, 22, 26).

RESULTADOS

Na tabela l, são observados os dados encontrados quanto à positividade dos tetos submetidos ao teste "CMT".

Na figura 1, é mostrada a distribuição quanto ao crescimento bacteriano das 926 amostras de leite examinadas.

Na figura 2, vê-se a distribuição porcentual no total e no grupo dos agentes bacterianos e micóticos isolados.

Thumbnail TABELA 1
Número de animais e tetos examinados pelo "CMT", resultados e respectivas porcentagens. Região de Ribeirão Preto/SP, 1983-85

Na tabela 2, estão representadas as associações de 2 ou mais agentes encontrados, com suas freqüências e respectivas porcentagens.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A mastite é definida como uma reação inflamatória do úbere. Constitui uma síndrome resultante de qualquer condição ou combinações de fatores que causam danos às estruturas internas de um ou mais quartos da glândula mamária. A inflamação ocorre como uma reação para neutralizar ou destruir o agente irritante e preparar o tecido para sua recuperação e retorno às condições normais (27).

Microrganismos, condições ambientais e o próprio úbere são os três componentes principais que atuam na manifestação das mastites. Assim, por apresentarem interação de vários fatores, o seu diagnóstico, tratamento e controle se torna uma tarefa difícil e sua erradicação bastante improvável (7, 27).

A forma subclínica é uma das manifestações desta patologia onde, embora as anormalidades da glândula e do leite não possam ser observadas macroscopicamente, podem ser detectadas por provas indiretas. Dentre elas destacam-se a contagem somática celular, exame bacteriológico, "California Mastitis Test" (CMT) e prova de Whiteside entre outras (25, 28).

As mastites, provavelmente, representam a maior perda econômica nos rebanhos leiteiros, embora a maior porcentagem se deva à infecção subclínica, prejuízos com morte, descarte de animais, de leite e custo de tratamento devem ser considerados (16).

As causas bacterianas têm a maior importância econômica (29) e foram os principais aspectos considerados no presente trabalho.

Thumbnail TABELA 2
Número e distribuição dos agentes etiológicos, com suas ireqüências e porcentagens, das 191 amostras com crescimento associado. Região de Ribeirão Preto SP, 1983-85
FIGURA 1
Distribuição das amostras e porcentagem segundo o crescimento bacteriano, puro ou associado. Região de Ribeirão Preto/SP, 1983-1985.
FIGURA 2
Distribuição dos 972 agentes bacterianos e micóticos isolados de 926 amostras de leite positivas para mastite subclínica. Porcentagens no total e nos grupos. Região de Ribeirão Preto/SP, 1983-1985.

Assim, dentre os gêneros mais observados, o Staphylococcus SP. contribuindo com porcentagens em torno de 50% , foi verificado também em Portugal (21), Bulgária (37) e em vários Estados do Brasil (9, 10, 17, 24, 25). Outros autores apresentam dados em que o gênero aparece em proporção inferior a 50% (3, 11, 19, 22, 30, 33). O gênero, ainda é considerado o de maior ocorrência nos Estados Unidos (7, 36), como também na Inglaterra (28).

O Streptococcus SP. aparece em 2 0. lugar de ocorrência (25 ,2 % ) , como foi também observado pela maioria dos autores até aqui citados, apresentando-se em ordem decrescente de isolamentos as espécies agalactiae, uberis e dysgalactiae, igualmente observado no Rio Grande do Sul (11) e nos Estados Unidos (7). Para outras regiões como Rio de Janeiro (17), Pernambuco(14) e Inglaterra (28), o S. uberis, aparece em 3? lugar dentro do gênero, sendo o S. agalactiae, a espécie com maior número de isolamentos (1, 10, 12, 16, 22, 31, 37).

No presente relato, o gênero que aparece em 3? lugar em porcentagem de isolamento é o Corynebacterium com 12,9% , agente menos comum em casos de mastite subclínica, mas igualmente notificado com o mesmo destaque de importância por outros autores (2, 10, 11, 14, 17, 24), embora também tenha sido encontrado como o segundo grupo em isolamento (8, 9).

No quarto grupo de bactérias mais freqüentemente isoladas encontram-se as enterobactérias, 7 ,2 % do total, com Enterobacter sp. , Escherichia coli, Serratia sp. e Klebsiella SP. , coincidindo com o que é normalmente encontrado nas mastites subclínicas (2, 9, 12, 17, 24, 25, 31, 33, 38).

Quanto aos demais agentes, os achados vão ao encontro aos de outros da literatura como Pseudomonas SP. (2, 9, 31), Micrococcus SP. e Pasteurella multocida, com reduzida porcentagem de presença foi também, anteriormente, observada (17, 24).

As leveduras e fungos como agentes de mastite subclínica são pouco encontrados (7, 11, 20, 21, 36), como foi aqui evidenciado respectivamente 1 e , diferindo de outros achados (9). Para as leveduras, Candida é o gênero predominante, particularmente a C. albicans (2, 7, 11).

Dentre as associações bacterianas, as mais comuns ocorreram com dois agentes, Staphylococcus SP. - Streptococcus sp., associação esta também relatada por outros autores (9, 12, 21, 24, 31) e com três agentes, Staphylococcus SP. - Streptococcus SP. - Corynebacterium sp., como também já demonstrado (8).

Com referência ao comprometimento do rebanho por mastite subclínica, foi observado um índice de 53,3 % de positividade entre os animais e 24% entre os tetos (tab. 1), porcentagem superior à dos achados do Paraná (24) e de Pernambuco (14), mas inferior a do Rio Grande do sul (10) e São Paulo (25).

Amostras de leite dos tetos "CMT" positivos, ao exame bacteriológico, mostraram crescimento em 80,2% destas (fig. 1), dado relativamente similar ao encontrado em 1986 (9), que registrou 88,39% e de 1981 (34), que demonstrou 73% de proliferação bacteriana, porém bastante superior aos 45% observados em 1973 (10). A porcentagem de 19,8 de culturas negativas, provavelmente seja devido a processos inflamatórios fisiológicos que influem na interpretação do "CMT" e ao não emprego de técnicas e meios de cultura específicos para determinados grupos bacterianos, como os anaeróbios (21, 32).

Atualmente, no Brasil existe uma predominância dos gêneros Staphylococcus e Streptococcus para os casos de mastite subclínica, havendo porém a possibilidade de que outros gêneros e até mesmo espécies, venham a apresentar maior destaque, como já vem sendo observado aqui (8, 9) e em outros países, isto se deve à atuação do homem que, muitas vezes de forma inadequada, tenta o controle e tratamento desta patologia.

Embora no presente relato não se tenha observado alterações no quadro de ocorrência a nível de São Paulo, período superior a dez anos, faz-se necessário um monitoramento constante do rebanho para a evidenciação destas formas ditas silenciosas de mastite, acompanhado pelo exame bacteriológico, bem como pela verificação dos padrões de sensibilidade dos agentes encontrados (4), uma vez que estes também podem se alterar com o incorreto emprego de agentes terapêuticos.

Deve-se ressaltar que a aplicação de rigorosas medidas higiênico-sanitárias é de fundamental importância (29, 30), pois é evidente, segundo a maioria destes autores que a prevencão, controle e tratamento dos casos de mastites subclínicas irá diminuir ou evitar a ocorrência de mastites clínicas (18) e, sobretudo, minimizar os prejuízos econômicos com elas advindos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o fornecimento de reativos, discos de antibióticos e produtos farmacêuticos às seguintes firmas: CECON-Centro de Controle e Produtos para Diagnóstico Ltda. ; CEFAR-Farmaco Diagnóstico Ltda.; FATEC-Química Industrial S.A.; FONTOURA-WYETH Indústrias Farmacêuticas; Instituto Veterinário RHODIA MÉRIEUX Ltda.; JOHNSON & JOHNSON S.A. Indústria e Comércio; Laboratórios ANDRÔMACO S.A.; Laboratório I.S.A. S.A.; PFIZER S.A.; SHERING PROCAMPO Produtos Veterinários Ltda. ; SQUIBB Indústria Química S.A. ; UPJOHN-Produtos Farmacêuticos Ltda. Divisão TUCO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Datas de Publicação

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