BOTULISMO EM AVES DE POSTURA NO ESTADO DE SÃO PAULO
RESUMO
Relata-se, no presente trabalho, um surto de botulismo em aves que vitimou 1.000 animais em uma granja de postura do Município de Santa Rita do Passa Quatro - SP. As ves morreram em um período de 06 meses e as mortes ocorriam sempre nos fins de semana. Sintomatologicamente apresentavam paralisia flácida da musculatura cervical e dispnéia. Coletado fígado para exames detectou-se toxina botulínica do tipo C. Os autores consideram os cadáveres não retirados do galpão, como fonte da toxina.
PALAVRAS - CHAVE Botulismo; poedeiras
SUMMARY
An outbreak of botulism in layers is described in Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo State, with thousand deaths. The deaths have ocurred in 6 (six) months but mainly at the weekends. Botulism toxin type C was detected in liver of dead animals. The authors considered that the problem was due to the ingestion of carcases that were not removed from the sheds.
KEY-WORDS - Botulism; layers.
INTRODUÇÃO
O botulismo nas aves, como nas demais espécies animais, ocorre pela ingestão da toxina botulínica pré-formada em larvas de moscas, cadáveres em decomposição, águas paradas com presença de material orgânico, alimentos ensilados ou mesmo restos alimentares em geral. Acredita-se, atualmente, que tenha sido botulismo a causa de surtos de mortalidade de patos selvagens nos Estados Unidos, nos anos de 1876 (16) e 1893 (14). Entretanto, o primeiro surto, em aves domésticas foi descrito por DICKSON (6), no qual foi isolado um bacilo anaeróbio de características morfolóÚcas idênticas às do Clostridium botulinum, que havia sido descrito pela primeira vez por VAN ERMENGEN em 1897.
A partir dessas assinalações, inúmeras outras ocorrências tem sido registradas em diversos países, acometendo: galináceos e palmípedes na Austrália (12, 21); França (5, 27) e Uruguai (31). Gansos, avestruzes e aves aquáticas silvestres na África do Sul (18, 32, 25). Faisões na Suécia (7) e Estados Unidos (4). Aves aquáticas silvestres nos Estados Unidos (11, 13, 16, 17); Austrália (10, 21, 26); Canadá (29); Suécia e Dinamarca (20).
A literatura Nacional é pobre em registros desta intoxicação e as duas primeiras citações restringem-se ao diagnóstico clínico em aves no Estado de São Paulo (3, 22). Dois outros surtos foram descritos em galinhas no Rio de Janeiro (2) e no Rio Grande do Sul (28), tendo sido seus diagnósticos confirmados através da detecção e identificação da toxina. Recentemente foi relatado um surto em frangos de corte em São Paulo, sendo caracterizado como agente causal o Cl. botulinum do tipo C (15).
A presente ocorrência foi registrada em um lote de 18.000 aves de uma granja de postura, linhagem Braskalb, situada no Município de Santa Rita do Passa Quatro-SP, na qual verificou-se cerca de 1.000 mortes no decurso de 6 (seis) meses, conduzindo clinicarnente à suspeita de botulismo.
MATERIAL E MÉTODOS
1. A anamnese revelou que todas as vacinações, habitualmente realizadas neste tipo de criação, se encontravam dentro do calendário previsto (Marek, Newcastle, Bouba, Bronquite Infecciosa, Coriza Infecciosa e Síndrome da Queda da Postura);
2. A água de abastecimento provinha de fonte única e própria;
3. A ração era preparada na própria granja e distribuída por sistema mecanizado automático;
4. A cama consistia de cavaco de madeira e o sistema criatório era o conhecido como "all in-all out" ;
5. O problema foi assinalado em um único galpão, dos dois existentes na granja;
6. Ao exame clínico verificou-se, que as aves se mostravam inapetentes, com dificuldade de loco moção, "sonolência", oclusão palpebral, dispnéia e paralisia flácida da musculatura cervical (Figura 1);
7. As aves achadas mortas ou sacrificadas foram necropsiadas, conforme as técnicas habituais, coletando-se fígado para análise bacteriológica, visando a pesquisa de anaeróbios, através da semeadura em caldo Tarozzi e em placas de ágar sangue mantidas em estufa bacteriológica a 37 °C e em condições de anaerobiose com o auxflio de jarra de Mclntosh, e para a pesquisa da toxina botulínica. Através do teste da neutralização em camundongos seguindo a metodologia proposta por DOWELL (9), foram inoculados, 6 lotes de camundongos, cada um com três animais. O lote 1 recebeu o sobrenadante puro; o lote 2 0 sobrenadante aquecido a 100 °C/10 minutos; o lote 3 0 sobrenadante tratado com tripsina em solução a 0,2% (pH 6,2); o lote 4 0 sobrenadante previamente tratado com antisoro polivalente; e os lotes 5 e 6, o sobrenadante previamente tratado, respectivamente, com os anti-soros C e D.
FIGURA 1Ave doente com sintoma típico revelando flacidez de pescoço.
RESULTADOS
1. A necrópsia não revelou alterações macroscópicas significativas;
2. Na análise bacteriológica não houve isolamento de bactérias anaeróbicas;
3. A inoculação em camundongos apresentou os seguintes resultados: lotes 1 e 3 os sintomas catacterísticos de dispnéia, abdome acinturado, paralisia flácida e morte dentro de 96 horas após a inoculação (Figura 2). Os lotes 2, 4 e 5 sobreviveram sem exibir qualquer alteração do comportamento e no lote 6 morreram todos os anirnais com os sintomas descritos para os lotes 1 e 3.
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Na avicultura moderna, através do confinamento de grande número de aves, criam-se condições para o surgimento do botulismo. Tais condições são potencializadas pela deficiência nutricional, associada ao manejo inadequado, que podem levar ao canibalismo (1, 15, 23, 24, 30).
BLANDFORD & ROBERTS (1) relacionaram botulismo ao canibalismo e ingestão de larvas de moscas presentes nas carcaças em decomposição, onde o ceco parece ser o local ideal para a produção e conseqüente absorção da toxina botulínica (19).
FIGURA 2Camundongo inoculado com o material oriundo de ave doente. Observa-se nítido acinturamento do abdome.
HARIHARAN & MITCHELL (14) enfatizararn o estreito relacionamento entre o agente, o hospedeiro e o meio ambiente no favorecimento da ocorrência do botulismo do tipo C, o qual em aves tem sido reportado com maior freqüência, fato que, segundo MIYAZAKI & SAKAGUCHI (19), decorre maior estabilidade da toxina do tipo C à temperatura corpórea de 41 oc das aves e ao pH 7,4 do ceco.
O resultado observado no teste com camundongos permitiu concluir que a toxina era a do tipo C.
Com relação a toxina do tipo D, embora tenha comportamento semelhante a anterior, é desconhecida a causa da inexistência de relatos.
Na presente ocorrência, a prática de necrotagia foi favorecida pela permanência das carcaças em decomposição por períodos prolongados, decorrentes da falha de manejo nos fins de semana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Datas de Publicação
Histórico
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