Resumos
Introdução: As parasitoses intestinais ainda constituem um sério problema de Saúde Pública, devido a sua alta prevalência na população, associação com diversos fatores ambientais e seus complexos ciclos epidemiológicos.
Objetivo: Efetuar um levantamento sobre a ocorrência de enteroparasitoses em duas cidades - Timon (MA) e Macapá (AP).
Método: Coorte retrospectiva realizada no ano de 2012, que analisou os casos de enteroparasitoses em crianças de 2 a 12 anos de idade atendidas em dois laboratórios vinculados ao serviço público de saúde das cidades de Timon - MA e Macapá -AP.
Resultados: Giardia lamblia, Entamoeba histolytica e Ascaris lumbricoides foram os parasitas mais prevalentes no estudo.
Conclusão: Verificou-se associação entre a prevalência de parasitoses e os baixos índices de Gini. O controle dessas doenças necessita de políticas públicas envolvendo educação sanitária e ambiental, além de melhor distribuição de renda.
gestão em saúde; epidemiologia; doenças parasitárias; vigilância em saúde
Introduction: Parasitic diseases still constitute a serious public health problem due to their high prevalence in the population, association with several environmental factors and their complex epidemiological cycles.
Objective: To conduct a survey of intestinal parasitic diseases in two cities in Northern Brazil - Timon (MA) e Macapá (AP).
Methods: A retrospective cohort study was performed in 2012 and examined cases of intestinal parasites in children 2-12 years of age attended in two laboratories linked to the public health service in the cities of Timon - MA and Macapa - PA, both in Brazil.
Results: Giardia lamblia, Entamoeba histolytica and Ascaris lumbricoides were the most prevalent parasites in the study.
Conclusion: The hypothesis regarding to association of intestinal parasitic diseases and low Gini index is true. The control of these diseases requires public policies involving health, environmental education and better income distribution.
health management; epidemiology; parasitic diseases; public health surveillance
INTRODUÇÃO
As parasitoses intestinais ainda representam um complexo problema de Saúde Pública1. Grande parte das doenças que acometem crianças em países subdesenvolvidos tem como causa básica as infecções helmínticas2 , 3.
No Brasil, estudos epidemiológicos sobre esse problema são feitos de forma fragmentada, em decorrência das dificuldades encontradas em organizar grandes inquéritos epidemiológicos que contemplem todas as características regionais e sociais envolvidas. Em uma breve revisão literária, foi observada uma média de prevalência de 25% de casos em várias regiões brasileiras4 - 7.
Iniciativas de intervenção sanitária voltadas para a prevenção e controle de enteroparasitoses têm sido estruturadas, periodicamente, com o objetivo de reduzir a elevada prevalência desse tipo de doença, principalmente no Norte e no Nordeste e em comunidades de difícil acesso, como as indígenas8. A prevenção das principais parasitoses intestinais continua sendo negligenciada pela grande maioria da população, que, em geral, pouco conhece a respeito da cadeia de transmissão9.
Essa carência de dados é um fator agravante, pois não se sabe a relevância regional do problema, o perfil epidemiológico e a distribuição de parasitoses emergentes ou reemergentes e, assim, não se observa a transição epidemiológica dessas doenças. Muitas localidades brasileiras nem sequer efetuaram inquéritos parasitológicos. Silva et al.10 abordam, por exemplo, o fato de que há uma carência de estudos epidemiológicos com respeito às enteroparasitoses nos municípios do interior do Estado do Maranhão10.
Por esse motivo, este estudo objetivou determinar a frequência de enteroparasitoses em populações de duas áreas distintas do Brasil: as cidades de Macapá (AP) e Timon (MA), além da determinação do índice de Gini, que é um indicador de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo renda domiciliar per capita, cujo valor varia de 0 (quando não há desigualdade) a 1 (quando a desigualdade é máxima), como variáveis socioeconômicas11.
METODOLOGIA
Trata-se de uma coorte retrospectiva, realizada no ano de 2012, que analisou o total de casos diagnosticados de enteroparasitoses (demanda espontânea) em crianças de 2 a 12 anos de idade atendidas em dois laboratórios vinculados ao serviço público de saúde das cidades de Timon (MA) e Macapá (AP).
O município de Timon (05°05'38"S, 42°50'13"O), localizado na mesorregião leste maranhense, microrregião geográfica do Itapecuru, possui uma área territorial de 1.740,56 km2 e uma população de 144.333 habitantes, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)12. Macapá (00°02'18.84"N, 51°03'59,10"O), localizada no sudeste do Estado do Amapá, é a capital do Estado, e conta com uma população de 366.484 habitantes12.
Os resultados laboratoriais apresentados neste estudo foram obtidos por meio de exames parasitológicos fecais realizados no laboratório de análises clínicas da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Congó, localizada em Macapá (AP), que atende cerca de 30 mil habitantes, e no laboratório de análises clínicas da Casa de Saúde e Maternidade São José, em Timon (MA), que serve a toda a população da cidade. Foi usada a técnica descrita nos Procedimentos Operacionais Padrão (POP) de ambos os laboratórios: método de Hoffman et al.13, sendo computados nos dados apenas as amostras analisadas em 3 coletas, efetuadas em intervalos de 24 horas entre cada uma delas. Para cada amostra enquadrada nesse critério foram preparadas três lâminas e as leituras foram realizadas em microscópio óptico comum, por três minutos.
A principal hipótese deste trabalho tomou por base a possibilidade de associação entre o risco de contração de parasitoses e os baixos valores do índice de Gini, em ambas as localizades estudadas. Para concluir o estudo, observou-se o coeficiente de prevalência em relação ao número de exames protoparasitológicos efetuados nos dois municípios, de acordo com os dados cedidos pelas secretarias municipais de saúde no ano de 2012, além de seus respectivos índices de Gini12.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Maranhão sob o protocolo nº 00559/99, de acordo com as políticas estabelecidas pela resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
RESULTADOS
Os valores obtidos (coeficiente de prevalência e distinção entre os parasitas) podem ser observados na Tabela 1.
Thumbnail Tabela 1Espécies de parasitos encontrados em crianças residentes em Timon (MA) e Macapá (AP), 2009
Foi verificado que Giardia lamblia, Entamoeba histolytica e Ascaris lumbricoides foram os parasitas mais prevalentes no estudo. A prevalência pontual em relação ao total de exames solicitados para a população infantil das duas cidades pode ser observada na Tabela 2, apontando para a extrema predominância de parasitoses no município de Timon (MA).
Thumbnail Tabela 2Prevalência pontual de enteroparasitoses diagnosticadas no ano de 2009 nos municípios de Timon (MA) e Macapá (AP)
DISCUSSÃO
As doenças parasitárias, em especial as do trato gastrintestinal, ainda constituem um grave problema de Saúde Pública1, especialmente quando acometem crianças2 , 3. No Brasil, são escassos os estudos epidemiológicos controlados que avaliaram adequadamente os índices de infecção por esse grupo de doenças4 - 7. Tal fato está ligado à associação entre o conjunto de indicadores econômicos relacionados à desigualdade e à baixa renda e a ocorrência de parasitoses na população, o que concretiza a hipótese de que baixos índices de Gini estão associados ao maior risco de contração de parasitoses. Vale ressaltar que diversos indicadores sociais, e não somente o índice de Gini, podem ser analisados de forma comparativa à prevalência e incidência de doenças que são classicamente associadas a fatores de ordem econômica, ambiental e sanitária.
Entre as parasitoses mais observadas nas cidades estudadas, os protozoários intestinais e Ascaris lumbricoides foram os mais ocorrentes, assim como visto em outros trabalhos1 - 4. Tal evidência suscita a ideia de que os mecanismos de transmissão que envolvem a poluição da água e dos alimentos, o não tratamento de esgotos e a falta de educação em saúde como medida de prevenção primária às parasitoses, associados aos fatores sociais e educativos aqui representados pelo índice de Gini, prevalecem em várias regiões brasileiras, alertando os pesquisadores e as autoridades da área da saúde com relação à necessidade de se ampliarem as propostas de educação e profilaxia de um quadro complexo.
Assume-se que este estudo foi realizado num curto intervalo de tempo e em apenas duas cidades brasileiras. A condução de novos estudos multicêntricos nas diferentes regiões da Federação, com o objetivo de comparar as diferentes realidades da população brasileira, é necessária para verificar se o fenômeno observado nesta pesquisa poderá se repetir quando analisado em uma escala maior.
CONCLUSÃO
Observou-se associação entre a elevada prevalência de parasitoses e os baixos índices de Gini, com destaque especial para a desigualdade social identificada na população estudada. As melhorais sanitárias e sociais envolvendo emprego, renda e educação ainda são escassas em várias regiões e devem ser distribuídas de forma equitativa, baseando-se nos modelos de prevenção primária e da melhoria da qualidade de vida da população. O elevado índice de enteroparasitoses é o reflexo imediato desses fatores que se arrastam ao longo do tempo e implicam na dificuldade da resolução desse quadro que é, no mínimo, alarmante. Sanitaristas, epidemiologistas e profissionais envolvidos diretamente com a Saúde Pública devem continuar atentos a esses indicadores epidemiológicos. A endemicidade de infecções parasitárias põe em risco o desenvolvimento econômico, social e cognitivo de populações vulneráveis, principalmente em áreas pobres. Tal quadro deve ser veementemente combatido, pois a peculiaridade dessas doenças é sua associação contundente ao estado de carências sociais e sanitárias.
Referências
Datas de Publicação
Histórico
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