'Macetando', ondas de calor e geração Z são temas de questões da Unicamp

Isabela Palhares São Paulo

A primeira fase do vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) teve questões com a música "Macetando", das cantoras Ivete Sangalo e Ludmilla, além de tratar das ondas de calor, enchentes no Rio Grande do Sul e a guerra entre Rússia e Ucrânia.

O vestibular neste domingo (20) ocorreu em horário inédito, com início às 9h. A instituição fez a mudança para evitar prejuízos aos candidatos por conta da maior incidência de eventos climáticos extremos.

Segundo a Comvest, responsável pela organização da prova, a mudança foi bem-sucedida.e será mantida nas próximas edições do vestibular. A abstenção da prova foi de 7,1% —no ano anterior, havia sido de 6,9%.

Candidatos participam de prova da primeira fase do Vestibular Unicamp 2025 neste domingo (20) - Antonio Scarpinetti - 19.jan.22/SEC Unicamp

"A antecipação do horário da prova teve uma resposta extraordinária. A abstenção ficou quase a mesma do ano passado, sendo o segundo menor índice de faltosos dos últimos dez anos. Estávamos receosos com a mudança, mas ela veio para ficar", disse José Alves de Freitas Neto, diretor da Comvest.

Ainda segundo ele, a prova foi aplicada em 31 cidades de São Paulo, além de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Salvador e Recife. Em nenhum local houve qualquer incidente que tenha prejudicado a aplicação da prova. "Não tivemos nenhuma queda de energia, como sempre enfrentamos em anos anteriores", disse.

O gabarito oficial da prova será divulgado na quarta-feira (22) no site da Comvest. A segunda fase do vestibular será realizada nos dias 01 e 02 de dezembro de 2024.

Questões

A prova da primeira fase da Unicamp é composta por 72 questões de múltipla escolha. Uma delas citava a música "Macetando", hit do último Carnaval, em uma questão de português que abordava o duplo sentido do verbo.

"A prova da Unicamp tem essa característica de abordar assuntos que são pop, que fazem parte do cotidiano dos candidatos. Essa questão com a música, por exemplo, abordava a brincadeira com o verbo macetando para avaliar o conhecimento gramatical do estudante", disse Márcia Magalhães, coordenadora pedagógica da Comvest.

As questões climáticas que pautaram a mudança do horário do vestibular também estiveram fortemente presentes na prova. As enchentes no Rio Grande do Sul e as ondas de calor também foram abordadas. Uma das perguntas também tratava da responsabilidade dos entes federados brasileiros nos casos das inundações.

Na prova de inglês, a Unicamp fez uma abordagem sobre gírias da geração Z, além de profissões e gênero em um dos textos de apoio.

Das nove obras literárias cobradas no vestibular, seis foram abordadas na prova. O livro "A vida não é útil", de Ailton Krenak, e canções de Cartola apareceram nas questões.

Rafaela Localli, professora de geografia do colégio e cursinho Oficina do Estudante, avalia que a prova trouxe questões bastante atuais, abordando inclusive conflitos que ainda estão acontecendo, como entre Israel e Palestina, Venezuela e Essequibo, e Rússia e Ucrânia.

"Também trabalhou aspectos da geografia física, como as massas de ar e os impactos climáticos no Rio Grande do Sul. Foi bem específica em climatologia, exigindo que o candidato tivesse segurança sobre zonas de alta e baixa pressão."

Para ela, uma das questões de maior nível de complexidade foi uma que tratava da Amazônia Azul. "Inclusive, a resposta estava na própria imagem, ao abordar a plataforma continental e a exploração na zona econômica exclusiva do nosso mar territorial."

Rodrigo Basilio, professor de história e fundador do Dissecando, diz que a prova seguiu a tendência da Unicamp dos últimos anos por ser atravessada por questões políticas e sociais do contemporâneo. Ele destacou a presença de temas como afro-futurismo, protagonismo histórico de mulheres e indígenas e catástrofe climática.

"É uma prova que exige dos candidatos não apenas conhecimento conceitual, mas uma capacidade de mobilizar seus conhecimentos para refletir criticamente sobre o contemporâneo. Uma temática atravessou diferentes áreas (Geografia, Física, História, Literatura, Química): a catástrofe climática", destaca Basilio.

Mário Fernandes, professor de matemática do Oficina do Estudante, avaliou que a prova teve enunciados mais curtos e diretos diz que o nível de dificuldade na disciplina foi menor do que em anos anteriores.

"A dificuldade para alguns estudantes pode ter sido em uma questão de geometria que envolvia triângulos, exigindo manipulação trigonométrica, onde ela fornecia a relação trigonométrica necessária, mas demandava calma na resolução."

Fábio Vilar, professor de biologia, também avaliou que a prova foi bem elaborada e estava desafiadora para os alunos. "Nesta edição, praticamente todos os temas e tópicos da biologia estiveram presentes. Foi uma prova bastante equilibrada na distribuição dos diversos conteúdos da disciplina. Encontramos questões de botânica, biomas (especificamente o mangue), genética, cromossomos sexuais, citologia, fisiologia vegetal, evolução e zoologia."

Vera Lúcia Antunes, coordenadora do cursinho Objetivo, disse que a prova deste ano manteve um "padrão educacional alto", uma marca da avaliação da Unicamp. "É uma prova muito bem elaborada, que privilegia aquele aluno que se preparou durante toda a sua vida escolar, porque é cobrado que ele tenha boa capacidade analítica."

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