Não se trata de moinhos de vento

Photo: Archivo

É muito difícil escrever sobre Che Guevara. É difícil escrever sobre um homem que, nos dias de hoje, o que ele mais nos pediria é que fizéssemos, trabalhássemos, produzíssemos, e que não nos lembrássemos dele apenas em resenhas de sua própria história. Ações, mais do que palavras – ele nos diria – exemplo e mobilização – ele reafirmaria – ele, que não gostava de homenagens, que não vinha de outra linhagem que não fosse a do trabalhador, do cidadão comum, do lutador diário.
 O que se pode escrever sobre Che Guevara que não pareça uma mera homenagem e que realmente sirva à luta cotidiana desta Revolução que ele também construiu?
 Há muitas anedotas e lições de Che Guevara, cada uma do ponto de vista de quem a viveu, e em todas elas há a mesma essência: que a Revolução é feita pelo homem, mas – como ele afirma naquele artigo, que é guia para os comunistas cubanos que é O Socialismo e o Homem em Cuba – o homem tem de forjar, dia a dia, seu espírito revolucionário.
GUERRILHEIRO, INTERNACIONALISTA
 Em 21 de julho de 1957, Fidel promoveu Che Guevara com sua conhecida frase: «Ponha aí Comandante», quando assinou a carta de condolências a Frank País pela morte de seu irmão Josué. Ele foi o primeiro, depois de Fidel, a ostentar a patente militar mais alta.
 Em seu diário, aquele jovem de 29 anos escreveu: «A dose de vaidade que todos nós levamos dentro me fez sentir o homem mais orgulhoso do mundo naquele dia».
 A partir de então, tornou-se uma das principais figuras da guerra e da Revolução triunfante, com ética e conduta exemplares para todos os seus companheiros, que não admitiam o menor deslize se o bem-estar do povo estivesse em jogo.
 Dez anos depois, em julho de 1967, ainda jovem, faria suas anotações em outro diário, de outro movimento guerrilheiro, o da Bolívia...
 Dois momentos diferentes, dois contextos diferentes aos olhos do mesmo homem que voltava às armas, porque sabia que as injustiças, onde quer que estivessem neste mundo, tinham de ser sentidas como suas, e lutar pela felicidade do povo... Esse internacionalismo, que não é apenas um dever, mas uma necessidade revolucionária, que mantém vivas as fibras da solidariedade e que, diante do cerco do imperialismo, foi o que permitiu que nossos povos rompessem muitos cercos.
 É por isso que, quando ele foi morto em 9 de outubro, o inimigo tentou escondê-lo com medo da força de seu exemplo, mas não conseguiu. Che Guevara já havia transcendido, com seu exemplo e suas ideias, vários anos antes.
CUBA, FIDEL E RAUL
 A amizade entre Che Guevara e Raúl remonta a 1955, quando o cubano teve que se exilar no México. Lá eles se conheceram e mais tarde fizeram parte da expedição do iate Granma, organizada por Fidel, para serem livres ou mártires em 1956.
 Nos dias de guerra, a amizade entre eles se fortaleceu, a ponto de, quando Raúl foi promovido a comandante e partiu para fundar o Segundo Front no norte do Oriente, ter deixado uma nota que ratificava a identificação do pensamento dos dois: «(...) Estando totalmente identificado ideologicamente com o camarada Guevara, delego a ele e ratifico quaisquer opiniões ou declarações que ele possa emitir nesse sentido e com relação ao que está inicialmente expresso neste documento».
 E é exatamente a frase de Che Guevara que Raúl cita na Assembleia Nacional do Poder Popular, em 1994, quando diz:
 «E se estamos aqui hoje e a Revolução Cubana está aqui é simplesmente porque Fidel entrou primeiro no quartel Moncada, porque saiu primeiro no iate Granma, porque foi o primeiro na Serra Maestra, porque foi à Playa Girón em um tanque, porque quando houve uma enchente ele foi lá e houve até uma briga porque não o deixaram entrar. É por isso que nosso povo tem uma confiança tão grande em seu Comandante-em-chefe, porque ele tem, como ninguém em Cuba, a qualidade de ter todas as autoridades morais possíveis para pedir qualquer sacrifício em nome da Revolução».
 E a tudo isso ele acrescenta, na carta de despedida que escreveu a Fidel quando este partiu de Cuba para outras terras do mundo, para oferecer o apoio de seus modestos esforços: «Que se a hora final chegar para mim sob outros céus, meu último pensamento será para este povo e especialmente para você».
 Assim, Che Guevara sempre levou Cuba, o povo que ele também reconhece como seu, onde seus filhos cresceram, onde conheceu o amor e onde pôde realizar seus maiores sonhos como construtor. Sobre ele, entre muitas ideias, Fidel disse na noite solene após a notícia, em outubro de 1967: «As horas que ele tirava do sono as dedicava ao estudo; e os dias regulares de descanso os dedicava ao trabalho voluntário».
 Esse foi o Che Guevara, o mesmo Che sobre o qual é difícil escrever hoje, quando sabemos que fora de nossas casas, de nossos locais de trabalho, há uma realidade que exige mais ousadia, mais firmeza, mais alegria e mais determinação para defender as ideias que nos permitiram ser uma nação orientadora da esquerda no mundo até hoje.
 Há muitas tarefas para as quais a vanguarda ideológica deve mobilizar os homens e as mulheres honestos deste povo de Fidel Castro, Che Guevara e Raúl Castro; há almas preguiçosas a serem despertadas; e também decantar os oportunistas que prejudicaram tantos anos de sacrifícios de gerações inteiras de cubanos. O próprio Che Guevara disse, em O socialismo e o homem em Cuba: “É claro que há perigos presentes nas circunstâncias atuais. Não apenas o dogmatismo, não apenas o congelamento das relações com as massas em meio à grande corrida; há também o perigo das fraquezas em que se pode cair».
 E é aí que está Che Guevara. Naquele chamado constante para nos revermos todos os dias, para sermos mais revolucionários em cada uma de nossas tarefas, para sermos exigentes com o que fizemos de errado, pensando que nossas ações beneficiarão ou prejudicarão o povo do qual fazemos parte; aquele que não se cansa de nos dizer, sem rodeios, que não devemos ceder nem um pouco, nada... porque a espada de Dâmocles paira sobre nossas cabeças desde 1959, quando decidimos nos libertar do imperialismo, e enquanto esse for o destino da Ilha rebelde, não haverá descanso. Não importa que o inimigo hoje se apresente com uma mídia diversa e «alternativa», com rostos ingênuos ou delicados.  Não há descanso.
SAÚDE, GUEVARA!
 Outubro de 1997: 30 anos se passaram desde o assassinato de Che Guevara na Bolívia, desde a queda de seus companheiros. As lembranças da descoberta de seus restos mortais, do desfile do povo na Praça da Revolução para recebê-lo de volta, junto com seus companheiros que foram um destacamento de reforço, como diria Fidel, nesses anos difíceis, ainda estão latentes.
 Desde então, ele está em Santa Clara, um dos lugares mais íntimos de sua história guerrilheira; lá cuida de Cuba a partir de seu próprio centro. Dez anos depois, em 2007, no momento em que se comemorava o 50º aniversário de sua promoção a comandante, um grupo de 50 jovens, guiados pelo espírito do mestre jornalista Guillermo Cabrera Álvarez e sua Tecla Ocurrente, foi à Serra para homenageá-lo, em uma união de sonhos e seguidores de seu exemplo.
 Ali foi colocada uma placa com a frase que o jovem guerrilheiro escreveu em seu diário e, assim, no coração da serra Maestra, ficou para o futuro a homenagem ao homem que, desde sua incorporação à luta revolucionária cubana, foi uma de suas principais figuras. Porque nem a dor, nem as circunstâncias difíceis, nem a mais dura das batalhas podem matar a utopia e a convicção de um verdadeiro revolucionário que ama; nem podem nos tirar a vitória.
 Nós, revolucionários cubanos, nesta hora decisiva, continuaremos nos forjando na ação cotidiana, sem renunciar nem um pouco ao novo homem, e conscientes de que é o grupo de vanguarda, o melhor entre os bons, o Partido, que abre o caminho.
 Uma bala não pode acabar com o infinito, escreveu Haydee Santamaría, abalada pela notícia de sua morte. E é justamente porque nossas circunstâncias são mais complexas que isso é mais necessário para nós. Quanto mais distante parece a utopia, ou os sonhos de justiça social que os seres humanos merecem, mais presente ela está.
 Che Guevara ainda tem muito a fazer. Não se trata de moinhos de vento, mas de viver e morrer – se necessário – por um ideal, por outras pessoas e pelo futuro. Ele mostrou que isso é humanamente possível.
 É por isso que continuaremos aqui, lutando contra cada vitória centímetro a centímetro, sempre Pátria ou morte, querido Che Guevara.

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