Bar em Curitiba, perto do tradicional Parque Barigui, vira ponto de festa

Lugar calmo, protegido, oculto, afastado ou mesmo um esconderijo. Assim os dicionários definem a palavra recanto, e se um bar tivesse esse nome? A boa notícia que existe esse caminho do gole no bairro Mercês, próximo ao Parque Barigui, um dos pontos turísticos mais tradicionais de Curitiba.

O Bar e Mercearia Recanto ou Boteco do Sinésio é daqueles lugares em que a magia acontece. Família ajudando dentro e fora do balcão, clientela com apelidos carinhosos, petiscos de boteco e muita história de trabalho. Tudo começou na pequena Novo Mundo, interior da Bahia, distante 300 quilômetros de Salvador.

Sinésio Pereira Sampaio, 78 anos, trabalha há mais de 65 anos na nobre missão de servir aos outros. Filho do Seu Durvalino e da Dona Casemira, iniciou na lida colhendo café e ajudando a dar comida ao gado na fazenda dos pais. Com a morte do genitor, a mãe decidiu deixar a Bahia rumo ao Paraná.

“Passamos por Terra Rica, Itaúna, Diamante do Norte, Nova Londrina, Loanda, Santa Isabel de Ivaí e Londrina. A mãe vendia remédios naturais e terminamos esse roteiro em Assaí com uma pequena banca na rodoviária. A prefeitura liberou depois que conversei com o prefeito e o pessoal da Saúde. Ali deslanchei para o trabalho antes de vir para Curitiba”, disse Sinésio.

Na capital, o mundo-novense descobriu que a alimentação e a bebida podem unir. Já ao lado da esposa e companheira Gilda, casados há 56 anos, assumiram a lanchonete do Colégio Opet. “Era muito corrido, começava às 6 horas e terminava perto das 23 horas. Chegava em casa e tinha que começar a preparar os salgadinhos para o dia seguinte Tivemos proposta de seguir no colégio, mas decidimos ter algo nosso”, lembrou Sinésio.

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Sinésio no controle do Recanto. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná Sinésio no balcão antigo vermelho. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná O dono do boteco e sua vida. Foto :Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

Do Colégio para o bar

O primeiro bar/restaurante do Sinésio foi na Euclides da Cunha com a Martim Afonso. Chamava-se Bar do Lourival, nome do ex-dono que tinha o ponto. “Seguia sendo uma loucura, pois servíamos uns 80 almoços e 50 jantares por dia. Nesse atual endereço nas Mercês, era uma mercearia chamada Nogaroli, depois virou Bar do Zezinho e Bar do Fracaro, um motorista de ônibus. Foi dele que comprei e não alterei nada”, relatou Sinésio.

E ainda bem, o bar é da moda antiga. Piso de cimento desgastado, sinuca no lado externo, balcão vermelho com marcas de copos americanos, engradados de todas as cores, pratos azuis de plástico, potes com doces, estufas com salgados e prateleiras com centenas de itens que salvam a vida dos botequeiros solteiros ao evitar uma passadinha a um mercado pós boteco. “A mercearia tem o seu valor, o cliente toma uma cerveja e leva para casa alguma coisa. Eles nem sentem o preço. O que mais sai é o ovo”, brincou Sinésio.

O Bar e Mercearia Recanto também atrai outros tipos de clientes que costumam ficar no Parque Barigui e adjacências. “Quase que diariamente aparecem macaco, jacu, bem-te-vi, saíra-sete-cores atrás de banana. No nosso depósito tem bastante coisa e atrai os bichos. Aqui só eles têm fiado”, brincou o proprietário com mais de 30 anos de bar.

O bom astral do bar tem relação com o dono que brinca com a clientela e tira onda de todos. “Ele com a experiência leva alegria para a turma, é uma troca de ideias e momentos de felicidade. Estar no Recanto representa um hábito diário de encontrar os amigos e virou uma rotina”, desabafou o simpático Galdino Junior, um dos clientes da casa.

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Um bar raiz na essência. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná Prateleiras cheias no Recanto. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná O esporte no boteco. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná O cliente Galdino no Recanto. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná Ovos, trigo, vinagre e tudo mais no Bar do Sinésio. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

Pão na kombi e bolinho de carne

No Bar e Mercearia Recanto, o pão servido aos clientes chega de kombi próximo das 18 horas. A união perfeita para o bolinho de carne feito pela Gilda. É um dos melhores da cidade, com queijo e bacon no recheio que combina com uma cervejinha gelada ou mesmo o drinque chamado “pé-sujo”. “É batida de maracujá com Underberg, uma tradição. O nosso bolinho e a coxinha são os mais vendidos e a pancetta na hora do almoço”, comentou Sinésio que compra o pão fresquinho em uma kombi que consegue parar no acostamento da estreita e movimentada Rua Romano Bertagnoli, acesso a Cândido Hartmann.

Quanto ao futuro, filhos e netos já estão no batente aprendendo com o experiente da família. “Estou cansado, não é fácil ficar em pé muitas horas por dia. Não estou arrependido de nada, acho que o segredo é não dever para ninguém”, completou o pai do Sicarlos, Josmar, Rosani, o irmão Robson, e avô da Amanda, Kaleu, Kauã, Pedro, Leonardo e do Gabriel.

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Fiado só para animais. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná Panceta no prato azul. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná Viva o baiano Sinésio. Foto: Gustavo Marques/Tribuna do Paraná

Bar e Mercearia Recanto

Endereço: Rua Romano Bertagnoli, 691 – Mercês, Curitiba.

Horário de Funcionamento: de segunda a segunda das 10h até 22 horas.

Telefone: (41)3339-1192

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