Dia do Professor: um olhar multigeracional sobre os desafios da Educação

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Neste dia 15, comemora-se o Dia do Professor. A data segue sendo uma oportunidade de comemoração ao trabalho desses profissionais que enxergam as potencialidades não em si próprios, mas em quem seguram a mão e estimulam a alcançar a própria autonomia. 

Entre as felicidades de poder mudar a vida de pessoas e os desafios, vale a pena ser professor no Brasil? As perspectivas de uma professora efetiva, uma nos anos finais da carreira e uma futura, buscam ajudar a responder esse questionamento. 

Origem da data 

 A origem do Dia do Professor vem desde a época do Brasil Imperial, mais especificamente em 15 de outubro de 1827, quando Dom Pedro I assinou um decreto criando o Ensino elementar no país. Só em 1947 um professor de São Paulo, chamado Samuel Becker, decidiu reunir diversos professores e estudantes neste dia para confraternizarem.  

A prática se tornou tão popular que foi inevitável o surgimento do Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963. Este oficializou o dia 15 de outubro como feriado escolar. 

Por que a Educação? 

O interesse pela Educação, ou pelo menos uma relação forte, começou cedo com as professoras. Foi vocação que a levou à Educação, conforme Giltane Marinho — professora em anos finais. Isso porque já era estagiária em escolas desde os 16 anos de idade: 

“Eu comecei a dar aulas muito jovem. Acho que eu tinha 16 anos quando comecei a trabalhar como estagiária nas escolas. (…) Eu já fiz mesmo para pedagogia porque gostava, porque me encontrei. Inclusive, assim, foi contra toda a família. Todo mundo achava que eu deveria fazer vestibular para direito.” 

Para Hellen Moreira, professora efetiva, nunca foi sonho ser professora, mas o bichinho da Educação já dava sinais de que ia atacar, pois sempre gostava de estudar e ajudar os colegas, além de dar aulas particulares quando era mais jovem.  

Ela chegou a passar algum tempo fora de sala de aula, cerca de 6 anos, mas retornou à Educação quando terminou a faculdade. Mesmo com o fato de a “pedagogia não preparar para a sala de aula”, disse, ela encarou o desafio e definitivamente se apaixonou pelo que faz. A virada de chave definitiva, segundo ela, foi quando percebeu que tinha nas mãos “o poder de transformar a vida de uma criança”.  

Com Ana Luisa, estudante de Pedagogia, foram as experiências memoráveis na escola que a levaram escolher o curso: “a pedagogia sempre esteve presente na minha vida. Eu tive professores muito marcantes durante todo o meu processo de ensino. E sempre foi algo que eu admirei muito” afirmou a estudante, que já estagia em sala de aula há dois anos.  

Perspectivas  

A “instituição” professor, é, ou deveria ser, uma das mais respeitas do país. Mas na realidade prática não é isso o que acontece, pelo menos sob o ponto de vista do retorno financeiro. Muitas vezes falta remuneração e sobra trabalho até para depois do expediente. 

A estudante de pedagogia, Ana Luisa, não se acanha com o futuro, mesmo que ele possa parecer desafiador. “A carreira docente em si, o dia a dia, é uma coisa muito desanimadora, por questão de salário do profissional, da desvalorização, mas já vai fazer 2 anos que estou como auxiliar em sala e eu estou cada vez mais apaixonada”, explica. 

Hellen explica que um dos problemas atuais do local onde trabalha está nas famílias das crianças, que “tem deixado a responsabilidade do educar para o professor. O papel do professor seria mediar o conhecimento e ampliar a bagagem que o aluno traz. Só que hoje, vai além disso, pois hoje em dia você perde muito tempo ensinando valores e limites.” 

Vivências 

As histórias são as que ficam, afinal Giltane diz que sempre vai se lembrar dos cafés literários que organizava, levando até escritores goianos para participarem.  Esse trabalho de acesso à literatura estará sempre marcado na sua atuação profissional. 

Hellen traz que perceber que fez a diferença na vida de uma criança é uma sensação muito gratificante, mesmo que “algumas famílias não valorizem e nem o sistema busque valorizar o trabalho do professor”.  

Mais uma felicidade trazida pela professora, e mais uma das razões que a fazem continuar com a Educação é a respeito do contato com as crianças “quando eu me lembro daqueles olhinhos assim, brilhando… aquela sede de aprender… são muito bons” 

A educadora ainda compartilhou experiências pessoais marcantes e até mesmo que podem ser consideradas “pérolas” infantis: os pais de uma criança passavam por uma questão de divórcio, e, em toda a sua inocência, a jovem se apegou tanto a Hellen, que queria que ela se casasse com seu pai. Outra “pérola” vem outra pequena que, em plena sexta-feira, não embarcou no ônibus escolar pois queria ir para a casa da professora morar com ela. 

Dessas experiências, pode-se ter uma breve noção do impacto de um bom professor na vida de um estudante 

Remuneração e tempo 

Dados de um relatório recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), intitulado Education at a Glance, mostram que, no período de 2015 a 2021, o investimento em Educação, em vez de subir, caiu em média 2% a cada ano.  

Ainda conforme a pesquisa, os professores brasileiros trabalham mais e são menos remunerados em comparação ao salário e ao tempo laboral de educadores de países membros da OCDE: são aproximadamente 47% a menos de salário e 94 horas, em média, a mais por ano.  

Para se ter noção, professores do ensino fundamental II no brasil recebem em média, US$ 23.018 por ano, cerca de 128 mil reais. Quando comparado ao valor pago pelos países da OCDE para seus professores pode-se enxergar uma discrepância significativa US$ 43.058, aproximadamente 237 mil reais. Enquanto o tempo do Brasil é de 800 horas e da OCDE é de 706 horas. 

Outros contratempos 

Para Hellen, a Educação não é plenamente valorizada pois: “as pessoas não acreditam na Educação… pensam que professor nunca se recicla, não estuda, não faz curso… não trabalha… alguns pais até acham que professor é babá de filho deles”.  

Outro ponto levantado pela professora, sobre o descrédito da Educação, está no interesse de algumas camadas da classe política do país em manter a população ignorante, isto é, sem que exerçam o pensamento crítico:  

“Se a gente for levar para a política… eles querem que as pessoas fiquem ali engessadas, alienadas. Eles não estão interessados com que alguém faça, por exemplo, faculdade, porque ela abre a mente das pessoas.”   

Além desse desafio, existem outros como a própria falta de investimento que impossibilitam aulas que saiam da mesmice, dado que: “não tem suporte, não tem material, você, se quiser inovar, tem que tirar do seu bolso, comprar, porque se for esperar… não terá isso.” 

Giltane também menciona o caráter negativo atribuído, por uma parcela da sociedade, à figura do professor, de que o professor “é um profissional que não quer trabalhar, que está difundindo ideologias dentro da escola.”  Nesse contexto, é interessante pensar: como um professor vai supostamente “doutrinar” uma criança ou adolescente, considerando a existência de problemas como defasagem na aprendizagem, alta densidade de alunos em sala ao mesmo tempo e as dificuldades com o uso da tecnologia?   

Ela também menciona o fato de que há uma espécie de mito que “professor com mais formação, com doutorado, com pós-doutorado, não deve estar no ensino fundamental”. Segundo ela, há uma percepção de diminuição do ensino fundamental, pois alguns enxergam essa modalidade como inadequada a um perfil acadêmico, assim, esses professores mais capacitados, numa maioria expressiva, se restringem às universidades. 

Soluções 

“Se eu pudesse alterar algo na Educação brasileira, seria poder colocar um horário oficial em sala para o professor poder planejar as suas aulas, para não levar trabalho para casa” afirma Giltane.  

Além disso, a profissional destaca que são necessários investimentos em outros aspectos para melhorar o cenário: “Tem que ter formação, tem que ter plano de carreia. (…) tem que respeitar o setor, respeitar a questão da titularidade, que assim, quanto mais formação o professor tem, mais ele tem gratificação. Porque é um incentivo a estudar, a continuar no trabalho (…). Oferecer a formação dentro do ambiente de trabalho é muito importante para a valorização dos professores… além de respeitar o piso salarial.” 

Giltane ainda defende outras melhorias, como mais bibliotecas e salas de informática, devido à realidade do uso das tecnologias dentro das escolas. 

Por fim, apesar dos desafios e da desvalorização, o amor pelo ensino e a crença, no poder de transformar vidas da Educação ainda motivam professores como Giltane, Hellen e futuras professoras como Ana Luisa. A jornada docente, marcada por longas horas de trabalho, baixos salários e ainda a necessidade de lidar com desafios como a falta de investimento e o descrédito de parte da sociedade, exige persistência e reconhecimento da dimensão da dessa profissão. 

Assim, o impacto positivo em vidas, o brilho nos olhos dos alunos e a esperança de um futuro melhor fazem com que os professores continuem a trilhar esse caminho com esforço compatível à profissão, buscando construir uma Educação mais justa e valorizada. Que o Dia do Professor seja um momento de pensar sobre a importância desses profissionais e um incentivo para que a sociedade e as autoridades se comprometam de fato com a Educação brasileira. 

*Este conteúdo segue os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade 

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