Seis meses após enchentes, RS ainda tem 27 desaparecidos: 'É muito dolorido', diz sobrinho de casal de idosos

1 de 3 Erica e Elirio Brino, casal desaparecido após enchente em Roca Sales — Foto: Arquivo pessoal

Erica e Elirio Brino, casal desaparecido após enchente em Roca Sales — Foto: Arquivo pessoal

O casal Elirio e Erica Brino, ambos de 78 anos, está entre os 27 desaparecidos na enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024, segundo a Defesa Civil do estado. (Veja abaixo a lista de nomes) – 183 pessoas morreram.

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Para a família do casal de Roca Sales, município de 10,6 mil habitantes no Vale do Taquari devastado pela tragédia ambiental, a sensação é de vazio. Os Brino não têm notícias do paradeiro de Elirio e Erica há seis meses.

Eles estavam em casa, em uma propriedade rural nunca antes atingida pelo Rio Taquari. Em poucos segundos, o local foi levado pela força da água. Seis meses após a tragédia, o sobrinho Nivaldino fala como a ausência dos tios é sentida pela família.

"Todo mundo gostaria de encontrá-los. É muito dolorido não encontrar, não dar um sepultamento digno. A gente vê esse vazio. O Dia de Finados passou, a gente gostaria de depositar uma flor", conta.

No entanto, as autoridades mantêm as buscas sem previsão de encerramento.

De acordo com o major Gustavo Lock, do Corpo de Bombeiros, as buscas envolvem diversos desafios, como o acúmulo de entulho e sedimentos nas áreas atingidas, o que dificulta o acesso dos agentes. A presença de destroços nas enseadas obstrui o caminho das equipes, que precisam remover camadas de sedimentos, causados, principalmente, por deslizamentos.

"Agora começa a ficar cada vez mais difícil, porque, com o passar do tempo, o odor vai se dissipando. E aí os cães têm um pouco mais de dificuldade no faro em localizar aquelas pessoas", destaca o major.

No entanto, o major afirma que o atual cenário climático traz novas possibilidades, já que as áreas que estavam alagadas estão secando com a chegada do período mais quente, ampliando as possibilidades de investigação. Além disso, Lock conta que as áreas onde há volume de sedimentos ou materiais acumulados são consideradas prioritárias.

A equipe conta com três cães e forças de resposta rápida (FRs), embora, devido à continuidade das operações, a quantidade de pessoal disponível tenha sido reduzida e seja necessário realizar revezamentos. As FRs, que são grupos de militares especializados no Corpo de Bombeiros, são mobilizadas para situações de maior complexidade. Cada unidade é composta por até oito militares, divididos em células, e possui treinamento para atuar em situações extraordinárias.

"A maior dificuldade, nesse momento, é que as ocorrências permanecem. Isso também gera uma certa dificuldade para o nosso atendimento das ocorrências ordinárias", explica Lock.

O major ainda reforçou que, apesar da passagem do tempo e do retorno à rotina, o trabalho ainda é essencial.

"Com o passar do tempo, é normal, a vida volta, as rotinas voltam, e as pessoas muitas vezes esquecem dessa parte que aconteceu. Mas para as famílias atingidas, para as localidades, é importante mantermos (as buscas)", conta.
2 de 3 Procura por desaparecidos após temporais e cheias em Bento Gonçalves — Foto: Reprodução/RBS TV

Procura por desaparecidos após temporais e cheias em Bento Gonçalves — Foto: Reprodução/RBS TV

Família Brino

Das 14 vítimas confirmadas da enchente em Roca Sales, quatro são da família Brino: o filho do casal, Dorly; a esposa dele, Janice; e as netas dos idosos, Maria Eduarda e Gabriela. Outro neto, Eduardo, sobreviveu à tragédia.

Segundo Nivaldino, a família morava em uma propriedade rural relativamente distante do Rio Taquari. Nem mesmo na enchente de setembro de 2023 a água havia chegado ao local. Os Brino perceberam que havia algo de errado quando os bueiros próximos começaram a entupir.

"Nós morávamos longe do rio. O rio, para nós, não afetava em nada. A gente nunca esperava", diz o sobrinho.

Ele e um parente foram buscar ajuda. Em poucos segundos, a água alcançou o terreno, levando tudo o que tinha pela frente.

"A propriedade deles está toda destruída. Foi tudo embora. A granja desceu, juntou os galpões, a casa que eles tinham", relata Nivaldino, que também perdeu sua casa e hoje vive com os filhos em Muçum.

3 de 3 Terreno arrasado em Roca Sales pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul. — Foto: Reprodução/Globo

Terreno arrasado em Roca Sales pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul. — Foto: Reprodução/Globo

Lista dos 27 desaparecidos:

Vídeo mostra destruição em Roca Sales, no Vale do Taquari

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